As funções seno e cosseno são normalmente definidas geometricamente como a razão entre lados de um triângulo retângulo de hipotenusa unitária (Fig. 01).
Definição 1 (Geométrica) Considere um círculo de raio unitário centrado na origem de um sistema cartesiano ortogonal. Tome os pontos pertencente à circunferência e pertencente ao eixo horizontal e seja , então é a ordenada de e sua abscissa. Temos ainda que e .
Fig. 01 |
Evidentemente chegamos à:
Propriedade 1 Seja , então:
Demonstração: Pela Definição 1 e aplicando o Teorema de Pritágoras segue o resultado imediatamente.
Propriedade 2 Seja , então:
e
Demonstração: Da propriedade 1 e como :
Logo:
■
Essa definição é muito útil e foi suficiente para o desenvolvimento de grande parte da trigonometria que conhecemos hoje. No entanto, existe uma consideração importantíssima nela inclusa: o domínio real.
No início do século XVIII iniciou-se uma busca pela expansão dos conceitos trigonométricos para o conjunto dos complexos, motivada por exemplo pelas tentativas de generalizar a resolução de equações como para qualquer valor de (real ou complexo). Em 1714, Roger Cotes deu um passo crucial e chegou a uma fórmula de brilhantismo ímpar: .
No início do século XVIII iniciou-se uma busca pela expansão dos conceitos trigonométricos para o conjunto dos complexos, motivada por exemplo pelas tentativas de generalizar a resolução de equações como para qualquer valor de (real ou complexo). Em 1714, Roger Cotes deu um passo crucial e chegou a uma fórmula de brilhantismo ímpar: .
Talvez por sua morte prematura aos 34 anos, Cotes não recebeu os créditos por sua descoberta, que foi publicada de forma parecida por Leonhard Euler, em 1748: . Apesar da inegável semelhança, foi Euler quem primeiro tratou os complexos como elementos fundamentais da álgebra das funções e não mais como objetos matemáticos misteriosos e estranhos.
Cotes cointribuiu ainda em outras áreas importantes, de modo que o próprio Isaac Newton teria certa vez mencionado "se Cotes tivesse vivido mais, talvez tivéssemos descoberto alguma coisa."
Cotes cointribuiu ainda em outras áreas importantes, de modo que o próprio Isaac Newton teria certa vez mencionado "se Cotes tivesse vivido mais, talvez tivéssemos descoberto alguma coisa."
Brook Taylor publicou um estudo em 1712 sobre como aproximar uma função diferenciável vezes por um polinômio de k-ésimo grau (saiba mais). A relação do chamado Teorema de Taylor com funções analíticas inspirou uma nova definição, equivalente à anterior, das funções seno e cosseno, utilizando séries de Taylor, i.e. formas de se escrever funções como séries de funções infinitamente diferenciáveis.
Definição 2 (Analítica) Seja , então
Note que ao expandirmos o domínio para os complexos, as proposições 1 e 2 NÃO são mais válidas.
Ainda utilizando séries de Taylor, podemos definir o número neperiano ():
Ainda utilizando séries de Taylor, podemos definir o número neperiano ():
Definição 3 Seja , então
Com isso, podemos agora provar as relações encontradas por Cotes e Euler:
Teorema 1 (Euler) Seja :
Demonstração: Pela Definição 3 e fazendo :
Assim, pela Definição 2:
■
Como a função seno é ímpar e a função cosseno é par, note que fazendo em , obtemos:
Somando e subtraindo de , chegamos a uma nova definição das funções trigonométricas:
Definição 4 (Exponencial) Seja , então
Perceba agora que as imagens das funções seno e cosseno não são mais restritas ao intervalo e sim ao conjunto dos complexos¹! Desta forma, podemos afirmar que existe tal que , i.e. pela Definição 4:
Aplicando a fórmula resolvente em ():
¹ Para o leitor mais experiente, como as funções seno e cosseno são analíticas reais (intervalo aberto) e analíticas complexas (disco aberto), pelo Teorema de Liouville temos que de fato essas funções não podem ser limitadas em , já que não são constantes.
Referências bibliográficas:
APOSTOL, T. M.. Calculus: Multi-Variable Calculus and Linear Algebra, with applications to Differential Equations and Probability. 2a Ed. Noida: Wiley-India, 1968.
HOLLINGDALE, Stuart. Makers of Mathematics. Harmondsworth: Penguin Books, 1989.
MAOR, Eli. Trigonometric delights, http://press.princeton.edu/books/maor/